As palavras mais correntes em nossos dias são “vitória”, “sucesso” e “conquista”. Todos devem ser vitoriosos, bem sucedidos e conquistadores. A interpretação dessas palavras se dá à luz da economia, ou seja, “vitória”, “sucesso” e “conquista” são o mesmo que prosperidade financeira. Os vitoriosos são os que enriquecem, e por isso mesmo são bem sucedidos e conquistadores. É assim porque vivemos numa sociedade movida por interesses de mercado.
Rubem Alves diz que as palavras são como bolso – colocamos dentro delas o que quisermos. Por isso, uma mesma palavra pode ter conteúdos diferentes para nós. No seu bolso escrito “Deus” talvez não haja o mesmo conteúdo que no meu bolso escrito “Deus”.
Por vivermos numa sociedade movida por interesses de mercado - ou seja, lucro - os nossos bolsos quase sempre têm conteúdos que respondem a esses interesses. Em outras palavras, a economia submete nossos interesses e disposição. É ela quem dita o que devemos desejar, ser e pensar. Para evidenciar isso, basta percebermos como o bolso escrito “dignidade” tem como conteúdo “poder de consumo”. Ou seja, nem todos são igualmente dignos, somente aqueles que tem poder de consumo. Vivemos numa sociedade que não pensa mais em “cidadãos”, mas em “consumidores”. Quem não consome, não serve. Não serve no sentido mais literal do termo: pode ser descartado. Assim, não importa que milhões de pessoas morram de fome, afinal, não são consumidores, portanto, não tem dignidade e não merecem viver.
Por isso, acredito que não vivemos numa modernidade secularizada, mas idólatra. Adoramos o mercado. Para o progresso econômico, não importa que pessoas sejam sacrificadas. O mercado exige sacrifícios humanos. O que importa não é o bem-estar humano, mas o bem-estar do mercado. Para exemplificar isso, investigue quantos bilhões de dólares foram investidos para salvar os bancos norte-americanos, ou então, quantos trilhões de dólares foram investidos na guerra pelo petróleo, e quantos dólares são investidos para a erradicação da fome no mundo. O que importa para o mercado capitalista não é a erradicação da fome, mas o lucro.
Pense em quanto tempo você trabalha e qual é o seu salário. É justo? Claro que não. Você trabalha muito mais do que ganha. A diferença do seu trabalho para o seu salário é o lucro do seu patrão. Nesse sentido, estamos todos alienados. É só o lucro que importa não a sua dignidade.
Assim sendo, devemos repensar quais são os interesses que nos motivam. Estamos submetidos a quais valores? Precisamos mudar o conteúdo dos nossos bolsos “vitória”, “sucesso” e “conquista”, se quisermos caminhar para uma sociedade mais justa, mais solidária, mais igualitária e mais pacífica. Não é a economia de mercado que deve dizer o que é a dignidade humana, o que ela deve fazer é funcionar pela dignidade humana. Em outras palavras, a dignidade humana não deve estar a serviço do mercado, mas o mercado a serviço da dignidade humana. Temos que mudar o centro da discussão. Se o mercado, da forma que opera hoje, tiver que ser sacrificado para a construção de uma sociedade assim, que seja. Antes ele do que seres humanos.
Devemos submeter nossa interpretação da realidade não a interesses individuais, egoístas e mesquinhos, mas ao bem-estar coletivo. Afinal, não há sociedade sem coletividade. Ninguém vive sozinho, precisamos uns dos outros para existir. Não há “existência”, mas “coexistência”: uns com os outros, e todos com a Terra. O eixo da nossa ética deve habitar fora de nós, em nosso próximo. Essa foi a proposta de Jesus, e por isso o pregaram numa cruz. Talvez sejamos pregados também, mas antes isso que se conformar com a marginalização e opressão sistemática que alcança dois terços da população mundial.
Quando passamos a interpretar a realidade à luz da ética do “próximo”, ao invés de interpretá-la à luz de uma economia egoísta, que só aponta para o nosso próprio umbigo, não conseguiremos mais colocar no bolso escrito “progresso” uma noção de melhora pessoal, mas apenas de melhora coletiva.
Nunca houve tanta produção de alimentos no mundo, por causa do progresso tecnológico. Por outro lado, nunca houve tanta fome. Isso é um progresso? A resposta dependerá de qual a sua interpretação ética da realidade. Se ela estiver submetida aos interesses de mercado, você responderá que sim. Mas se estiver submetida ao próximo, você dirá que não. Dirá que progresso é repartir o pão.
Então “vitória”, “sucesso” e “conquista” terão outros conteúdos em seus bolsos. Já não estarão mais interessadas em prosperar, masem repartir. Vitorioso é quem aprendeu a amar o próximo. Tem sucesso que não se deixou mover apenas por interesses pessoais e pelo egoísmo, mas pelo bem-estar coletivo. O que há de mais importante para conquistarmos é a nossa atitude diante de uma realidade socioeconômica que gera sistematicamente pobreza. Quando conquistarmos ela, talvez comecemos a transformar o mundo.
É certo que há esperança, pois não há nada pronto: nem nós, nem o futuro.
Lucas Lujan
Rubem Alves diz que as palavras são como bolso – colocamos dentro delas o que quisermos. Por isso, uma mesma palavra pode ter conteúdos diferentes para nós. No seu bolso escrito “Deus” talvez não haja o mesmo conteúdo que no meu bolso escrito “Deus”.
Por vivermos numa sociedade movida por interesses de mercado - ou seja, lucro - os nossos bolsos quase sempre têm conteúdos que respondem a esses interesses. Em outras palavras, a economia submete nossos interesses e disposição. É ela quem dita o que devemos desejar, ser e pensar. Para evidenciar isso, basta percebermos como o bolso escrito “dignidade” tem como conteúdo “poder de consumo”. Ou seja, nem todos são igualmente dignos, somente aqueles que tem poder de consumo. Vivemos numa sociedade que não pensa mais em “cidadãos”, mas em “consumidores”. Quem não consome, não serve. Não serve no sentido mais literal do termo: pode ser descartado. Assim, não importa que milhões de pessoas morram de fome, afinal, não são consumidores, portanto, não tem dignidade e não merecem viver.
Por isso, acredito que não vivemos numa modernidade secularizada, mas idólatra. Adoramos o mercado. Para o progresso econômico, não importa que pessoas sejam sacrificadas. O mercado exige sacrifícios humanos. O que importa não é o bem-estar humano, mas o bem-estar do mercado. Para exemplificar isso, investigue quantos bilhões de dólares foram investidos para salvar os bancos norte-americanos, ou então, quantos trilhões de dólares foram investidos na guerra pelo petróleo, e quantos dólares são investidos para a erradicação da fome no mundo. O que importa para o mercado capitalista não é a erradicação da fome, mas o lucro.
Pense em quanto tempo você trabalha e qual é o seu salário. É justo? Claro que não. Você trabalha muito mais do que ganha. A diferença do seu trabalho para o seu salário é o lucro do seu patrão. Nesse sentido, estamos todos alienados. É só o lucro que importa não a sua dignidade.
Assim sendo, devemos repensar quais são os interesses que nos motivam. Estamos submetidos a quais valores? Precisamos mudar o conteúdo dos nossos bolsos “vitória”, “sucesso” e “conquista”, se quisermos caminhar para uma sociedade mais justa, mais solidária, mais igualitária e mais pacífica. Não é a economia de mercado que deve dizer o que é a dignidade humana, o que ela deve fazer é funcionar pela dignidade humana. Em outras palavras, a dignidade humana não deve estar a serviço do mercado, mas o mercado a serviço da dignidade humana. Temos que mudar o centro da discussão. Se o mercado, da forma que opera hoje, tiver que ser sacrificado para a construção de uma sociedade assim, que seja. Antes ele do que seres humanos.
Devemos submeter nossa interpretação da realidade não a interesses individuais, egoístas e mesquinhos, mas ao bem-estar coletivo. Afinal, não há sociedade sem coletividade. Ninguém vive sozinho, precisamos uns dos outros para existir. Não há “existência”, mas “coexistência”: uns com os outros, e todos com a Terra. O eixo da nossa ética deve habitar fora de nós, em nosso próximo. Essa foi a proposta de Jesus, e por isso o pregaram numa cruz. Talvez sejamos pregados também, mas antes isso que se conformar com a marginalização e opressão sistemática que alcança dois terços da população mundial.
Quando passamos a interpretar a realidade à luz da ética do “próximo”, ao invés de interpretá-la à luz de uma economia egoísta, que só aponta para o nosso próprio umbigo, não conseguiremos mais colocar no bolso escrito “progresso” uma noção de melhora pessoal, mas apenas de melhora coletiva.
Nunca houve tanta produção de alimentos no mundo, por causa do progresso tecnológico. Por outro lado, nunca houve tanta fome. Isso é um progresso? A resposta dependerá de qual a sua interpretação ética da realidade. Se ela estiver submetida aos interesses de mercado, você responderá que sim. Mas se estiver submetida ao próximo, você dirá que não. Dirá que progresso é repartir o pão.
Então “vitória”, “sucesso” e “conquista” terão outros conteúdos em seus bolsos. Já não estarão mais interessadas em prosperar, mas
É certo que há esperança, pois não há nada pronto: nem nós, nem o futuro.
Lucas Lujan
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